....Continuação
Será que você, meu amigo B, vai desaparecer como todos os outros? Será que conseguiu alguém que lhe dê mais receitas, lhe envie temperinhos...e aí não fala mais comigo, nem deixa recados. Estou pensando em desistir de você. Seriamente decidida. Nos falamos há algumas semanas, assuntos sem muita importância, mas eu sempre querendo mais de você. Quando desligo o computador fico com a impressão de que poderia ser mais incisiva, mais assertiva, não divagar tanto. Você, por outro lado, também se mantém distante...intencional ou não, o fato é que isso não nos aproxima. De você, sei menos do que gostaria. Olho por repetidas vezes a mesma foto antiga. Só de rosto, bem de pertinho, onde se vê claramente o verde escuro de uns olhos grandes, por detrás das lentes grossas. E monalisa ainda lá, naquele sorriso pouco revelador.
Já fomos mais freqüentes em nosso falar. Tínhamos quase um compromisso vespertino de entrarmos no mesmo horário na sala 19, aquela do bate papo do pessoal da culinária, lembra? Eu que nunca gostei de cozinhar, achava aquilo uma chatice, mas ia mesmo assim...via vocês falarem dos peixes, das ostras, lulas e camarões e ficava mareada só de ler tudo que todos escreviam. Mas se houvesse um convite mais expresso,um jantar, por exemplo, eu bem que aceitaria, mareada e tudo. Mas ...que jantar ? Estou mesmo louca!
O telefone toca.
Nunca atendo da primeira vez...
Gosto de dar a impressão de que estou muito ocupada e só na 5ª. chamada digo :- Hello!! Ninguém responde. Alô!! Alô... Desligo. Um frio na barriga... e se for ele? Ah, que pena, eu não tenho bina...e se tocar de novo, pergunto ? - É você, B...meu amigo? Mas não...o telefone não toca mais. Acho que fiquei irritada e logo eu, que parei de fumar, acendo um lápis imaginário e faço rodinhas de fumaça no ar.
Em algum lugar da minha agenda do ano passado, tenho o seu telefone. É o cúmulo, vasculhar agenda para encontrar um telefone antigo. Que bobagem, se eu ligar o que de mais poderá acontecer? Você poderá dizer que nem me reconhece a voz. Peço desculpas, foi engano, desligo. Pode se mostrar indiferente, o que será ainda pior...faço de conta que me sinto desinteressada também, me desculpo mas desligo primeiro. Melhor não...Dona Cocó dizia lá na minha cidade do interior : mulher correndo atrás de homem é igual lingüiça atrás de cachorro. Eu ficava imaginando a cena. Dona Cocó me repreenderia e ajeitando seu chapéu imaginário e arrastando roupas de princesa pelas calçadas afora, diria : homens, eca! D. Cocó era louca, mas sábia. Sabia inventar histórias, relatava fatos estranhos, contava mentiras , relatava sonhos premonitórios e nem sei porque penso nela agora.
Quero voltar a pensar em B. Desejaria tanto ter continuidade com ele. Chega de bilhetinhos, conversinhas, e-mails pra lá e pra cá. Me falta coragem! Goiânia é tão longe de São Luiz e eu fico daqui, indo e voltando para a Secretaria de Saúde onde, por detrás da mesa, fico vendo a tarde passar com preguiça, lá fora. Nem mar eu vejo, nem palmeiras ao vento eu tenho. Tenho sim, um computador só pra mim, uma sala grande com uma chefe mal humorada e mais dois funcionários, peixinhos do secretário, daqueles que nada fazem, sabe como é... No final do expediente, faço de conta que estou atrasada com o serviço e entro na sala 19, para falar de culinária e conversar no reservado com B. Meu coração dispara quando vamos para o reservado. Nada de mais se passa ali, mas fico imaginando que estamos a sós e isso sim, me esfria a barriga. Fico tímida, envergonhada, que boba eu sou.
B. nunca me disse seu verdadeiro nome e para ele, sou Linda Flor! Ele mais fala do que me escuta, talvez por ser muito inteligente, tem muita história para contar. Até conhece Minas Gerais ! Mandei para ele umas receitas de comida mineira. Por que passei em concurso público e estou morando em São Luiz do Maranhão, mas sou mineira, do interior, do Vale penoso do Jequitinhonha e nem assim gosto de cozinhar não!
Fico pensando nas minhas prosas com B. Penso que tudo pode ser mentira, mas que também pode ser verdade. E se ele viesse ao Maranhão, eu pensei: posso convidá-lo, seria tão bom conhecê-lo de verdade, ver ao vivo o sorriso monalisa, constataria a brancura de suas mãos, poderia mostrar a cidade, levar a restaurantes, arroz de cuxá. Visitar os Lençóis. Lençóis? Será? Outros lençóis estariam nos planos de B?
Djavan já não berra mais, o vizinho aqui do lado resolveu desligar o som. A tarde já se vai, sopra um ventinho bom e daqui a pouco volto para casa. Antes preciso digitar umas coisas e esperar que B. dê sinal de vida na telinha do meu computador. Enquanto isso todos os outros se preparam para sair. Você não vem, B? Logo hoje, 6ª. feira queria tanto falar com você. Fico esperando, esperando, esperando.
Nada...todos chegam e nada de B. Não tenho o que fazer em casa mas essa espera me deixa ansiosa. Eu que não fumo mais, porém mastigo a ponta da minha bicpreta e coloco, de uma só vez, 3 caixinhas de chicletes na boca.
B não vem mais. Amanhã tento de novo, se bem que aos sábados o pessoal da culinária não aparece na sala 19. Já aconteceu de B aparecer por lá, mas é sempre muito rápido. Desligo o computador, ajeito minha mesa, enfio o que posso nas gavetas, pego minha bolsa e saio.
No elevador encontro Ben, um colega que trabalha aqui, numa sala bem ao lado da minha. Fico olhando para ele, aquelas mãos brancas, um sorriso de monalisa, sempre tão animado, alegre, leve, suave, de bom humor. Penso que sua companhia me poderá fazer bem...
Aceito seu convite para um chopinho, afinal hoje é sexta feira!
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Será que você, meu amigo B, vai desaparecer como todos os outros? Será que conseguiu alguém que lhe dê mais receitas, lhe envie temperinhos...e aí não fala mais comigo, nem deixa recados. Estou pensando em desistir de você. Seriamente decidida. Nos falamos há algumas semanas, assuntos sem muita importância, mas eu sempre querendo mais de você. Quando desligo o computador fico com a impressão de que poderia ser mais incisiva, mais assertiva, não divagar tanto. Você, por outro lado, também se mantém distante...intencional ou não, o fato é que isso não nos aproxima. De você, sei menos do que gostaria. Olho por repetidas vezes a mesma foto antiga. Só de rosto, bem de pertinho, onde se vê claramente o verde escuro de uns olhos grandes, por detrás das lentes grossas. E monalisa ainda lá, naquele sorriso pouco revelador.
Já fomos mais freqüentes em nosso falar. Tínhamos quase um compromisso vespertino de entrarmos no mesmo horário na sala 19, aquela do bate papo do pessoal da culinária, lembra? Eu que nunca gostei de cozinhar, achava aquilo uma chatice, mas ia mesmo assim...via vocês falarem dos peixes, das ostras, lulas e camarões e ficava mareada só de ler tudo que todos escreviam. Mas se houvesse um convite mais expresso,um jantar, por exemplo, eu bem que aceitaria, mareada e tudo. Mas ...que jantar ? Estou mesmo louca!
O telefone toca.
Nunca atendo da primeira vez...
Gosto de dar a impressão de que estou muito ocupada e só na 5ª. chamada digo :- Hello!! Ninguém responde. Alô!! Alô... Desligo. Um frio na barriga... e se for ele? Ah, que pena, eu não tenho bina...e se tocar de novo, pergunto ? - É você, B...meu amigo? Mas não...o telefone não toca mais. Acho que fiquei irritada e logo eu, que parei de fumar, acendo um lápis imaginário e faço rodinhas de fumaça no ar.
Em algum lugar da minha agenda do ano passado, tenho o seu telefone. É o cúmulo, vasculhar agenda para encontrar um telefone antigo. Que bobagem, se eu ligar o que de mais poderá acontecer? Você poderá dizer que nem me reconhece a voz. Peço desculpas, foi engano, desligo. Pode se mostrar indiferente, o que será ainda pior...faço de conta que me sinto desinteressada também, me desculpo mas desligo primeiro. Melhor não...Dona Cocó dizia lá na minha cidade do interior : mulher correndo atrás de homem é igual lingüiça atrás de cachorro. Eu ficava imaginando a cena. Dona Cocó me repreenderia e ajeitando seu chapéu imaginário e arrastando roupas de princesa pelas calçadas afora, diria : homens, eca! D. Cocó era louca, mas sábia. Sabia inventar histórias, relatava fatos estranhos, contava mentiras , relatava sonhos premonitórios e nem sei porque penso nela agora.
Quero voltar a pensar em B. Desejaria tanto ter continuidade com ele. Chega de bilhetinhos, conversinhas, e-mails pra lá e pra cá. Me falta coragem! Goiânia é tão longe de São Luiz e eu fico daqui, indo e voltando para a Secretaria de Saúde onde, por detrás da mesa, fico vendo a tarde passar com preguiça, lá fora. Nem mar eu vejo, nem palmeiras ao vento eu tenho. Tenho sim, um computador só pra mim, uma sala grande com uma chefe mal humorada e mais dois funcionários, peixinhos do secretário, daqueles que nada fazem, sabe como é... No final do expediente, faço de conta que estou atrasada com o serviço e entro na sala 19, para falar de culinária e conversar no reservado com B. Meu coração dispara quando vamos para o reservado. Nada de mais se passa ali, mas fico imaginando que estamos a sós e isso sim, me esfria a barriga. Fico tímida, envergonhada, que boba eu sou.
B. nunca me disse seu verdadeiro nome e para ele, sou Linda Flor! Ele mais fala do que me escuta, talvez por ser muito inteligente, tem muita história para contar. Até conhece Minas Gerais ! Mandei para ele umas receitas de comida mineira. Por que passei em concurso público e estou morando em São Luiz do Maranhão, mas sou mineira, do interior, do Vale penoso do Jequitinhonha e nem assim gosto de cozinhar não!
Fico pensando nas minhas prosas com B. Penso que tudo pode ser mentira, mas que também pode ser verdade. E se ele viesse ao Maranhão, eu pensei: posso convidá-lo, seria tão bom conhecê-lo de verdade, ver ao vivo o sorriso monalisa, constataria a brancura de suas mãos, poderia mostrar a cidade, levar a restaurantes, arroz de cuxá. Visitar os Lençóis. Lençóis? Será? Outros lençóis estariam nos planos de B?
Djavan já não berra mais, o vizinho aqui do lado resolveu desligar o som. A tarde já se vai, sopra um ventinho bom e daqui a pouco volto para casa. Antes preciso digitar umas coisas e esperar que B. dê sinal de vida na telinha do meu computador. Enquanto isso todos os outros se preparam para sair. Você não vem, B? Logo hoje, 6ª. feira queria tanto falar com você. Fico esperando, esperando, esperando.
Nada...todos chegam e nada de B. Não tenho o que fazer em casa mas essa espera me deixa ansiosa. Eu que não fumo mais, porém mastigo a ponta da minha bicpreta e coloco, de uma só vez, 3 caixinhas de chicletes na boca.
B não vem mais. Amanhã tento de novo, se bem que aos sábados o pessoal da culinária não aparece na sala 19. Já aconteceu de B aparecer por lá, mas é sempre muito rápido. Desligo o computador, ajeito minha mesa, enfio o que posso nas gavetas, pego minha bolsa e saio.
No elevador encontro Ben, um colega que trabalha aqui, numa sala bem ao lado da minha. Fico olhando para ele, aquelas mãos brancas, um sorriso de monalisa, sempre tão animado, alegre, leve, suave, de bom humor. Penso que sua companhia me poderá fazer bem...
Aceito seu convite para um chopinho, afinal hoje é sexta feira!
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