quarta-feira, 18 de abril de 2012

Biblioteca: Ira Buscácio


Eram dela, aqueles miúdos olhos tristes, mesmo, quando fingiam atrás das pálpebras, o sono. Havia neles a culpa por serem felizes. Involuntariamente, olhos felizes – mas precisavam ser tristes! 

Ninguém que tivesse arrastado pela vida, tanta falta de amor teria se quer um sopro de alegria. Seus olhos, de nada entendiam e só sabiam ser contentes, mas era necessário forjar melancolia, assim foi. Tornaram-se felizes olhos tristes!

Ela só queria remar nas águas da lagoa e dos sonhos, tão cheia de maternidade, por tudo e por todos, mas abortaram-lhe a vida e não a existência. Morte por asfixia! Derreteram suas medalhas e fizeram talheres, de ouro e prata.

Dentro de si mesma guardou a liberdade na caixinha de joia escarlate, lá ninguém a tomaria. E no silêncio da noite, onde os corpos morrem, ela ressuscitava e dançava viva, como se fosse gente. Perdida em sentimentos, como uma estrela a boiar no céu, que desconhece a luz e brilha. 

Pela manhã voltava a morrer, com o corpo em cadáver e a obediência serviçal, de quem desconhece a arrogância. Piedosamente, ela escondia sua alma aguerrida sob as sombras. Seria uma ofensa ser alegre, só por ter nascido assim?

Era legítimo e obrigatório ser infeliz, como o pai tirano e suicida, como o homem que lhe dera filhos e solidão, como os dias em branco. Jamais seria indelicada com os que acreditam que os pés são feitos pro chão. Pobres, nunca plantaram bananeira!

Deus! De que matéria era feita essa mulher, que viveu em estado gravíssimo de amor, sem fazer barulho, como se não respirasse, como se fosse éter? 

Havia na figura suave, quase névoa, um colo disponível, que de tão fácil nem era notado, mas estava ali, a espera de coisas possíveis. Uma gente humana, com um amor tão excessivo, que a enlouqueceu, antes que eu pudesse entender, não com o pensamento de pessoa, mas com meu coração de filho, que o amor é vermelho, sangra e mancha a saudade que é tão branca.

Agora, me lembro! Você disse: 

Guarde esse bilhetinho pra ler, quando você crescer – ainda, não esta na hora, mas quando chegar...  Prometo que vou ler!

E de volta ao Castelo a nossa querida moça Escritora do Rio de Janeiro Ira Buscácio com todo este talento harmônico e preciso. Esperamos tê-la sempre por aqui.

Castelo do Poeta
twitter: @castelodopoeta

TEXTO CEDIDO E AUTORIZADO POR IRACEMA BUSCÁCIO

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