quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Biblioteca: Lais Mouriê

Noite Desconexa
Lais Mouriê

Escorei meu copo de uísque nos retalhos de madeira da cama que quebrei, e onde dormi acordada toda a noite. Quebrou-se também algo em mim, inexplicavelmente sólido, quando caí de meus sonhos, na madrugada.
Só porque não sou rasa, afundei em mim destroços do hotel demolido nas férias longínquas e, assim, poder viajar para dentro na hora que bem entendesse. Visitei porões mal-assombrados do meu peito, percorri avenidas humanamente abandonadas, revi a solidão, que passeava despreocupada pelo céu de minha boca.
Arranquei a roupa, fiquei nua novamente, tirei dezenas de fotos e as colei em seus olhos. Fiz-me eterna para você. Colorida de verde, vi por você o que nunca suspeitou enxergar: Esperanças? Boas novas? Árvores frutíferas em pomares amarelos?
Joguei-me inteira pelo buraco da fechadura e sobrevivi. Descobri que nunca ousara amar-me, quando li seu diário secreto publicado no jornal matutino. Desamei-te a partir de então.

O copo de uísque, quase vazio, sobrevive, escorado em minhas coxas. Falo qualquer besteira para o vento gostoso que entra pela janela. Rio desconexadamente para o bicho de pelúcia, que, calado, pronuncia verbos amorosos.

Só então acordo dormindo para mais um dia vazio.

A Lais é grande parceira do Castelo e colega do João e da Ana desde o projeto anterior Trapiches. A doce mineira é também talento puro como podem ver acima. A esperamos aqui outras vezes. Mais de sua obra em seu blog Versos de Falopio.

Castelo do Poeta
twitter: @castelodopoeta

TEXTO CEDIDO E AUTORIZADO POR LAIS MOURIÊ

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