Quadro para profissionais da Cultura Brasileira com perguntas fixas elaboradas por João Lenjob inspirado no Livro Entrevistas de Clarice Lispector. Outros Profissionais com o Cetro.
Laz Muniz, Mineiro, Diretor de Criação e Arte, Ilustrador, Cartunista, Poeta e Cronista
Você critica seus próprios trabalhos?
Sou exigente ao ponto de estar no "dead line" e não aceitar entregar o trabalho ao invés de fazê-lo "meia boca"... Sou exigente sim, mas todo ser tem o direito de fazer bobagens e cometer delitos com sua própria arte de vez em quando, não é? Assim, tenho sempre meus momentos "nas coxas" pra que outras ideias melhores, que virão, possam fluir com mais intensidade. Contudo, exigência de verdade quem faz é o cliente. Eu só deixo acontecer!
O que é o amor?
É dar ao universo a energia positiva de que ele necessita, constantemente, pra continuar existindo.
As conquistas interferem na vida pessoal?
O que interfere na minha vida pessoal é não conquistar o que almejo. Eu sempre fui a mesma pessoa como o mesmo profissional. No ser artista é complicado e quase impossível separar as duas coisas. Não é como um bancário que, às 18h, deixa de ser bancário para ir pra casa e viver a vida que conquistou com o trabalho. No meu caso, eu vivo o trabalho que conquisto todos os dias na minha vida.
Qual o maior momento da carreira?
Eu espero que não seja 200 anos depois que eu morrer (gargalhadas)! Bom, eu vejo gente todos os dias compartilhando minhas artes nas redes sociais e recebo e-mails de algumas pessoas que me escrevem dizendo que chorou ao ler certas coisas que escrevi em meu blog; que se emocionam, que riem muito, me perguntam se eu pratico o que escrevo, e por aí vai... Estes contatos diretos, diários, na vida de um artista é o maior momento de sua carreira. Porque grandes momentos têm que ser todos os dias possíveis. Eu é que não vou ficar esperando pra receber um Prêmio Jabuti pra fazer disso o meu trunfo! Mas que venham todos os pequenos momentos e os grandes prêmios!!!
Quando você sabe que vai dar certo algum trabalho?
Espero nunca dar tiro no pé. Tiro no escuro eu não dou. Não entro em propostas de trabalhos de risco. Se vai dar certo eu nunca sei, mas sei que quando o cliente fica satisfeito, eu também fico. Então deu certo! E se o trabalho é pessoal eu só vou começar a executá-lo se eu tiver a certeza absoluta que ele vai dar certo! Porque eu vou entregá-lo a mim mesmo e eu mesmo o avaliarei, por fim. E se o eu pessoal não estiver satisfeito, o eu artista também não fica.
Como você acha que o Castelo pode ser exemplar ou inspirador através da sua pessoa?
Ser exemplar é uma preocupação do qual não deveria existir, pra mim (risos) mas eu fico muito preocupado com tal função no dia a dia. Trabalho com crianças, jovens, adultos, homens, mulheres, amigos, clientes, editores, publicitários, escritores, todo um meio artístico e conceituado, e eu não faço média ou pinta pra viver nesse meio. Então a preocupação torna-se maior se eu posso ser exemplar ou inspirador, sem que para isso eu force para o ser. Não, mesmo! Muito pelo contrário, eu prefiro que não o seja... Mas fico feliz se o for como contribuição aos leitores de O Castelo, de alguma forma...
O seu trabalho é a coisa mais importante de sua vida?
Uma vez Walt Disney disse que amava muito mais o Mickey Mouse do que qualquer mulher na vida dele. Eu tive um pequeno momento em minha vida em que uma mulher foi mais importante do que tudo e o que marcou provavelmente vai ficar pra sempre. Ainda bem que foi um momento passageiro, mas que mexe com a gente, balança as estruturas, tanto físicas quanto psicológicas. Porque amar a si mesmo em primeiro lugar é a coisa mais importante da vida. Só assim se ama o próximo. E se eu com os meus 35 anos e o meu trabalho somos unidos há 22 anos, o ser artista e o Laz Muniz são a mesma pessoa, não tem como nada mais ser mais importante do que o meu trabalho, que sou eu mesmo. Não vou arriscar de novo o meu trabalho. Sou taurino; apego demais a ele pra tê-lo traído uma vez... Sendo assim, vou concordar com Walt Disney!
O que você mais deseja atualmente?
O que todo artista quer: viver de sua arte! Eu me sustento do que faço, apenas, mas eu sobrevivo. Eu quero poder me sustentar e viver da minha arte para poder vivê-la muito mais e melhor!
Como as pessoas podem interferir no seu trabalho?
Não cutuquem uma caixa de marimbondo, por favor! Eu esbarro muito em certas ignomínias, algumas até aceitáveis, outras são de tirar o fôlego. Eu parei de ser chargista há muito tempo, assim, desacostumei a atacar, a fazer arte-ativista, essas coisas... Mas com isso, anteriormente, a briga era maior e as interferências também. Processar judicialmente e ser processado, fazer um cartum embasado em meses de pesquisas pra que você não saia lesado e nem prejudique ninguém, etc... Eu era acostumado com certas interferências...
Mas hoje eu pratico muito mais o ócio criativo, e muita gente não é capaz de entender que para se criar um bom produto é necessário relaxar, parar, pensar e, claro, brincar, fuçar, pesquisar, desvirtuar-se totalmente de tudo para chegar exatamente ao ponto em que queria... Uma peripatética constante, um oito infinito. Um autor mineiro que não me vem à memória disse uma vez: eu não discuto com pessoas que fazem exatas! - e é meio que por aí... Eu as entendo e elas não fazem a mínima questão de me entender por suas incapacidades criativas.
Escrevi isso outro dia...
"Mentes criativas quando escrevem uma tese, um livro, roteiros para o cinema, crônicas para o jornal, frases de amor e esperança na web, épicos, fantasias e novelas para a TV, poesias e músicas, tornam-se verdadeiros gênios da humanidade, intelectuais da modernidade, sábios exemplos para a sociedade. Essas mesmas mentes criativas quando resolvem fazer humor, da mesma forma, é porque estão com tempo de sobra e são uma cambada de a toa!".
Quais os profissionais da arte, moda, esportes, educação, saúde e afins você mais admira pela natureza profissional e pessoal?
Perguntas amplas demais me complicam (risos)... Prefiro não citar nomes, senão teria que listar mais de 50 aqui, mas ultimamente ando apreciando muitos ilustradores de literatura e design gráficos... Nunca vou deixar de lado um Pablo Picasso, um Da Vinci, um Miró, um Paul Klee, dentre outros clássicos, etc. por suas contribuições, claro! Mas, ultimamente, artistas mais inseridos na atual proposta do que se vem produzindo, em matéria das artes gráficas no mundo, eu melhor e mais admiro. Apesar d'eu já não ser mais influenciado, já ter adquirido uma fórmula própria há muitos anos, ainda aprendo muito e nesse meio, junto ao avanço tecnológico, a gente está em constante aprendizado e, claro, eterno! Já a natureza pessoal de nada me importa se quando uma importante coisa que me comove na arte é a absorção do aprendizado técnico. Mas, claro, quem não chorou com o filme Modigliani, Paixão Pela Vida?
Poucos sabem mas talvez tenha chegado no Castelo um dos parceiros mais antigos do João Lenjob. Certamente para não sair, mas Laz, além da infante amizade com nosso Editor, os dois tocaram juntos em 99 e também dividiram o coletivo e inédito livro Ars - Cadeno de Poesias, na cidade de Nova Era (capital do Castelo). Esperamos ter o Laz novamente no portal.
Castelo do Poeta
twitter: @castelodopoeta
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