Anyway
Poliana Guerra
de encontros, bem querência e afinidades
É misturar boas doses dos três, uma pitada de sal, com açúcar e com afeto (como queira Chico Buarque) que a receita é infalível. Não gasta bom cozinheiro ou dotes requintados demais, de gente muito 'da prendada'. Gasta sim, boa vontade e gratuidade. Mas essencial mesmo é o querer. Tendo querência, o resto pode ficar a gosto do freguês. Pode levar cardamono ou cinamono, puxar para o doce ou para o sal, pimentinha da boa... Tem dias de receita complicada e nomes exóticos, garam masala, turmeric, cominho, coentro, chilli, gengibre; tem dias de canjiquinha, ora pro nobis...
Tem dias que pedem mais alegria e calor e outros que pedem mais carinho e silêncio. Mas em se tendo querência, vos digo e repito, tem erro não 'seu' moço, lhe asseguro e 'agaranto'!
Servir é parte importante de nosso gostar. Aprendi isto com uns amigos árabes, bem longe daqui. A Simbologia da comida e da cozinha por toda nossa história é por demais forte. Nossa hospitalidade tem os pezinhos na cozinha, em qualquer canto do mundo. Talvez seja por onde se começa a entender a cultura do outro, pelos sentidos todos.
E esta partilha de sensações é que deve ser o mote de nossos assados e cozidos. Daí enriquecemos nossas memórias com outros códigos. Ficam os cheiros, sabores, cores e sons a nos remeter um ao outro. Fica o toque. Além de todas as referências que partilhamos em uma boa roda de narguilê, n'um prato partilhado a muitas mãos... infinita rede de associações...
hipertexto cognitivo, sensorial e simbólico. Fragmentos de nossas lembranças um do outro, qual colcha de retalhos, sem compromisso de contornos definidos.
Seguimos tecendo. A ver onde chegamos. Bom também, e por fim, é sentir com o vagar que pedem tais sentimentos, o que o outro provoca em nós. E cultivar. Deixar florir, ramificar, modificar.
Como já disse e repeti algumas vezes, na ocasião de conhecer gente muito da boa e querer mantê-las em meus dias. Me agrada muito a consciência de nossa responsabilidade por manter o que muitas vezes veio até nós como fruto do acaso.
Para acabar com Vinícius:'A Vida é a arte do encontro, embora haja tanto
desencontro pela vida...'
E em rara rodada dupla no Castelo, Biblioteca e Cetro mais que novaerense a amiga de infância do Lenjob, Poliana Guerra.
Castelo do Poeta
twitter: @castelodopoeta
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