sábado, 28 de janeiro de 2012

Com o Cetro: Paula Figueiredo

Quadro para profissionais da Cultura Brasileira com perguntas fixas elaboradas por João Lenjob inspirado no Livro Entrevistas de Clarice Lispector. Outros Profissionais com o Cetro.


Paula Figueiredo, Mineira, Escritora, Educadora


Você critica seus próprios trabalhos?
Sou muito exigente quanto à qualidade dos meus trabalhos. Posso dizer de mim que sou perfeccionista, apesar de não achar isso nenhuma virtude. Sou detalhista. Mas, em relação a tudo tento me posicionar da maneira mais suave possível, leve. Hoje aprendi a respeitar os meus textos assim como respeito os meus sentimentos e os sentimentos dos outros. Eu não brigo mais com o que produzo, não procuro dominar a minha arte, mas amá-la e deixá-la fluir. Por isso, sempre que consigo, não exijo mais de mim a perfeição. Afinal, a imperfeição é que é bela, pois é humana. O desejo de perfeição, hoje, me remete a algo frio, sem vida. É uma imposição violenta da razão sobre o (essencialmente contraditório) mundo dos sentidos e do coração.

O que é o amor?
“Love is old. Love is new. Love is all. Love is you”. (“Because” – The Beatles). Amor é a energia de atração entre tudo o que é animado. É a própria essência da vida: é o sopro divino em nós.

As conquistas interferem na vida pessoal?
Não há aspecto da vida que possa ser isolado de qualquer outro aspecto. Tudo o que me acontece e o que acontece a qualquer ser vivo em qualquer lugar do mundo interfere nisto que cotidianamente sou (para o bem e para o mal). Mesmo que minha razão possa não ver sentido nisso, mesmo que eu relute em aceitar, essa é uma verdade. Somos todos interdependentes. As minhas conquistas podem elevar a humanidade toda e minhas derrotas derrubá-la. Imagine o efeito destas em minha própria vida que é infinitamente mais próxima de mim do que a de qualquer outro ser? Pois bem, sou uma gota no oceano, mas sem esta gota o oceano teria uma gota a menos, como muito bem nos disse Madre Tereza de Calcutá.

Qual o maior momento da carreira?
Não me preocupo muito em maiores e menores momentos. Vivo o presente e me entrego inteiramente ao que faço, hoje. Trabalho diariamente o desapego ao que já passou, seja este passado glorioso ou doloroso. E controlo como posso a ânsia em projetar o futuro. Vivo neste fio que num piscar já passou. O que é meu está reservado e não é preciso que eu interfira em nada, preciso apenas seguir dando o melhor de mim (e respeitar de forma vigilante o pior enquanto não o superei). 

Quando você sabe que vai dar certo algum trabalho?
Eu não sei. Mas aposto mesmo assim. Confio em minha visão, pois sou movida por muito amor à humanidade: acredito que podemos, sim, ser melhores através de uma atitude de honestidade com nós mesmos (e com o próximo, em consequência). E não concordo em se ter conformidade com o que não faz bem. Por isso, sigo acreditando em minha visão mesmo sem o reconhecimento externo e, independentemente de o florescimento do que faço vir hoje ou daqui a três séculos, o meu papel será o de plantar a semente e acreditar em seu potencial de flor até a morte.

Como você acha que o Castelo pode  ser exemplar ou inspirador através da sua pessoa?
Não sei bem o que os outros vêem em mim e isso não é importante, pois preocupar-me com isso seria perder o foco do que preciso realizar: continuar, independentemente de onde ou como estou, a ser verdadeira comigo mesma a respeito de quem sou e do que quero e faço. Não intenciono ser exemplar, tampouco inspiradora. Sou apenas eu. (Sou um coração batendo no mundo. Clarice Lispector).

O seu trabalho é a coisa mais importante de sua vida?
Certamente, não. A coisa mais importante da minha vida é ser fiel a mim mesma.

O que você mais deseja atualmente?
Reformular a minha rotina para que eu me habitue a dormir mais cedo e a meditar todas as manhãs antes de sair para fazer o que quer que seja.

Como as pessoas podem interferir no seu trabalho?
Eu adoro todo tipo de feedback. Toda visão sobre o meu trabalho é proveitosa para mim, mas não levo nada ao pé da letra, pois encaro como apenas mais uma visão entre um milhão de possibilidades de outras visões. Sobretudo, eu respeito isso que vem de mim para mim e que compartilho com os demais em meus textos (ou minhas aulas). Não sinto desejo de mudar para ir ao encontro de nenhuma demanda exterior. O que mais me ensina mesmo é o sentimento de frustração que vez por outra aparece para clarear faces ocultas que insisto em querer esconder de mim mesma.

Quais os profissionais da arte, moda, esportes, educação, saúde e afins você mais admira pela natureza profissional e pessoal?
Amo o Paulo Freire. Sou aficcionada por Clarice Lispector. Tenho uma admiração inigualável por Guimarães Rosa. Adoro ler Drummond, José Saramago, Fernando Pessoa, Adélia Prado, Hilda Hilst, Yêda Schmaltz, Cora Coralina, Lya Luft, Virginia Woolf, Florbela Espanca, Rubem Alves, Nietszche. Redescobri recentemente o Oswald de Andrade. Gosto do que a Ana Jácomo escreve. Não canso de me divertir com o Fabrício Carpinejar. Não posso deixar de mencionar Osho e Rumi (com suas visões místicas de Deus, do amor e da necessidade absoluta da meditação). Apaixonada por Chico Buarque, Tom Jobim, Vinícius de Moraes... Fã incondicional de John Lennon. Curto George Harrison, Pink Floyd,  Raul Seixas, Los Hermanos, Tom Zé, Lenine, Ana Cañas e Céu. A música mais linda do mundo é o Bolero de Ravel. A voz mais poderosa, a do meu conterrâneo Bituca (Milton Nascimento). Mas a poesia mais bela do mundo é do e.e. cummings: “somewhere I have never travelled”. Fico hipinotizada diante de um quadro de Monet ou de Van Gogh. Adoro Miró. No cinema, Almodóvar, absolutamente (e Penélope Cruz). Bem depois: a mente de Woody Allen (e Scarlett Johansson). Moda, Oskar Metsavaht e (claro!) Gisele; no esporte, Nadia Comaneci.

Parceira do Lenjob, Paula é talentosíssima. Cria de Três Pontas, a terra de Bituca e majestosamente criativa. Percebe-se que a agua de lá é boa. Esperamos sempre tê-la por aqui e em breve ela voltará com surpresas.

Castelodo Poeta
twitter: @castelodopoeta

2 comentários:

  1. Show a entrevista: muito sucesso Paula

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    1. Olá querida Paula,
      Primeiro, PARABÉNS!!! A sua entrevista me remeteu a lembranças de sua infancia, onde você atuou numa peça ao 6 anos de idade, na sua formatura do Jardim Doce Vida. Tenho uma hipotese de pesquisa, de que aqueles formandos podem ter relação com as ideias da Conscienciologia, que começa a se confirmar por você.
      FICO MUITO FELIZ!
      Siga em frente e venha conhecer mais sobre as idéias que trabalho, tem tudo a ver com você.
      Abraços fraternos
      Danniela Miari

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