quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Biblioteca: Paula Figueiredo

Flores Angelicais
Paula Figueiredo

"Compartilhe da minha vida. Reconheça-me como sou. Pois nunca irei mudar todas as minhas cores por você. Receba o meu amor. Eu nunca irei pedir de mais: apenas tudo o que você é e tudo o que você faz. Eu verdadeiramente não preciso olhar muito além. E não quero ter que ir aonde você não me siga. Eu estou segurando aqui dentro esta paixão da qual eu não posso mais fugir. Não posso fugir de mim, não há aonde me esconder. Eu me lembrarei de seu amor para sempre! Não faça com que eu tenha que fechar mais uma porta. Eu não quero me ferir mais. Fique em meus braços se você tiver coragem; ou será que terei que imaginar você aqui? Não me abandone, não ouse me abondonar. Eu não tenho nada se eu não tiver você." (Whitney Houston – I have nothing).

Quando eu vi pela primeira vez a música acima ser interpretada pelo adolescente australiano Jack Vidgen no programa "Australia's got talent" ("Australia tem talentos", tipo um "Ídolos" australiano) no youtube, eu chorei. E em outras vezes que vi chorei de novo. Hoje é dia de finados. Talvez seja isso também. Hoje eu me lembrei de tudo o que perdi, e que tanto me valeu. Mesmo com toda a dor. Lembrei de tudo o que se foi, pois assim tinha que ser. Não, eu não tenho nenhuma melancolia. Mas hoje é o dia de viver o luto. E este caminho eu preciso percorrer só. Não há quem possa nascer e morrer acompanhado. Nascer e morrer a gente faz sempre sozinho. E este meu caminho é de vida e morte (e renascimento!). A minha vida é de vida e morte. E a morte me dói só de eu saber que ela existe.

Há coisas e processos na vida que são extremamente solitários e não há como carregar ninguém junto. Tudo o que vive e o que já morreu em minha história tem o seu lugar, o seu valor, e deve, por isso, ser honrado. Eternamente. Pois bem, hoje é o dia de levar flores para aquilo (e aqueles) que morreu(am) em minha história. Você disse: faça uma oração. Aqui está. Deixo esta oração, este meu canto, minha voz ecoando no silêncio e o ferindo (o sliêncio). Estas palavras são flores espirituais, angelicais, de agradecimento por tudo o que se foi, e que ainda é parte de mim - no fundo de minha alma, nisto que sou.

Eu chorei porque a vida é isso: choro e riso. E vou rir infinitas vezes mais e chorar de novo tantas outras milhões de vezes. Nada de extraordinário está acontecendo. Só a vida passando e as coisas vivendo e morrendo. E eu quase te culpei por não estar aqui, por não percorrer ao meu lado este caminho que é só meu. Queria te levar pra todo lugar em que eu fosse. Queria poder estar ao seu lado para sempre e querer isso me dói, pois há a morte que transforma o meu desejo em impossível. E, a música acima, eu a dedico a você. Para além da morte.

Eu disse aqui isso antes: eu acredito no amor. Agora digo que acredito no SEU amor.Também disse que sou muito romântica, mas que acabo sempre esperando a "puxada de tapete" e você comentou que colou o tapete com super-bonder e eu achei isso lindo. Lindo como eu acho tudo em você. Mas a puxada de tapete da vida é justamente quando a morte entra e se mostra viva. Como hoje. E isso você não poderá evitar que aconteça: não há como colar esse tapete com super-bonder. E a gente precisa viver com isso. E ser feliz.

Obrigada por me proporcionar lindos momentos de vida compartilhada. E por saber ser silêncio no momento em que o silêncio entra e impera e a ausência se faz presente; e por me trazer palavras doces nas horas de tristeza, de consciência de vida e morte. Obrigada por me lembrar de que há o belo e de que, apesar de toda a tristeza que a vida encerra, temos sempre infinitas razões para sermos felizes agora! Você é - pra mim - uma dessas razões. Que possamos estar juntos pelo tempo em que a vida quiser: amando, aprendendo, vivendo e morrendo. Que seja eterno enquanto dure. (E que os anjos digam amém!)

"Troque experiências, troque risadas, troque carícias. Não é preciso chegar num momento limite para se dar conta disso. O enfrentamento das pequenas mortes que nos acontecem em vida já é o empurrão necessário. Morremos um pouco todos os dias, e todos os dias devemos procurar um final bonito antes de partir." (Martha Medeiros)

"Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem." (Martha Medeiros)

A escritora Paula Figueiredo é artista apurada, de muito conhecimento e grande carinho do Editor João Lenjob. Reside em Três Pontas, terra do Bituca e aqui dá a sua "bitucada" e ela voltará varias vezes ainda com diversos temas e projetos diferentes.

Castelo do Poeta
twitter: @castelodopoeta

TEXTO CEDIDO E AUTORIZADO POR PAUA FIGUEIREDO

2 comentários:

  1. Muito obrigada, caro João, pela parte que me toca. Sinto-me muito agraciada pela oportunidade de estar aqui neste espaço tão interessante que é o Castelo e divulgar meus textos. Parabéns pelo trabalho de vocês! Quero mesmo voltar mais e sempre (e vou)! Abraço!
    E vamos confiar na vida :)

    Deixo aqui o meu blog para quem quiser ver um pouco mais: desmemoriafeminina.blogspot.com

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